sábado, 18 de julho de 2015

Mário Ferreira dos Santos - A Revelação dos Livros Sagrados, O APOCALIPSE DE SÃO JOÃO.

Apresentação:
   Dentre os vários manuscritos deixados pelo filósofo Mário Ferreira dos Santos, destaca-se O Apocalipse de São João, não só pela atualidade do tema, mas sobretudo por vir o texto sagrado acompanhado de comentários que se baseiam em uma análise hermenêutica e simbólica. Este trabalho exegético faz com que o texto se torne claro, límpido, apesar de São João ter usado de uma linguagem enigmática; passível de inúmeras interpretações.
Nas palavras do autor trata-se de um livro “eternamente atual”, já que o homem se ergue nesta escada mística, partindo da sua animalidade, que é o fundamental, o primordial, para alcançar os mais altos estágios, aqueles que Cristo nos indicou e que Ele simboliza.
O Apocalipse de São Joãofoi transcrito de gravações realizadas durante o período de 1965 e 1966; não tendo o autor revisado o original. O texto básico utilizou a Bíblia Sagradado Pe. Antônio Pereira de 
Figueiredo, sem a preocupação de seguir com absoluta fidelidade o original. A bibliografia refere-se às obras da biblioteca particular do autor.
Yolanda Lhullier dos Santos 
Nadiejda Santos Nunes Galvão
Análise hermenêutica e simbólica
O Apocalipse de São João é o título dado pelo apóstolo João ao Apocalipse de Jesus Cristo, a Revelação de Jesus Cristo. Porém uma questão se coloca: por que o apóstolo usou de uma linguagem simbólica e, até certo ponto, enigmática? Seria porque redigiu o texto quando desterrado, na ilha de Patmos e, pretendendo levá-lo aos seus correligionários, usou de uma linguagem secreta para evitar que os romanos o interpretassem diferente de sua intenção¹?
O gênero apocalíptico surge no século 2 a.C. e há inúmeras outras obras de autores hebreus sobre este tema. A de São João possivelmente foi redigida no período de 90 a 70 d.C. e nela estão presentes imagens simbólicas e enigmáticas. As simbólicas nas sete setenárias – sete igrejas, sete selos, sete trombetas, etc. – permitem afirmar que tudo gira em torno deste número que, para os pitagóricos, é o símbolo da unidade no seu máximo dinamismo, na sua realização evolutiva. É o primeiro número primo da década, cuja multiplicação, cujo primeiro multiplicador, está fora dela.
Não há dúvida de que, para a melhor compreensão do Apocalipse, exige-se um melhor conhecimento de aritmologia, uma noção mais profunda da simbólica dos números. Chamaremos a atenção, no decorrer da interpretação, do significado simbólico que tem os números que São João usa, onde veremos que sempre predomina o sete e as séries setenárias, e em torno deste número gira a trama simbólica que ele põe em análise.
Quanto à autenticidade, se é de São João ou de um de seus discípulos é matéria controversa e, mesmo nos dias de hoje, os livros da Igreja afirmam que o Apocalipsenão é uma questão de fé. Segundo comentaristas da Bíblia – os professores de Salamanca – caso ele tivesse sido escrita por um discípulo de João teríamos o mesmo problema levantado quanto à Epístola aos hebreus de um discípulo de São Paulo; o que não impede que o Apocalipse seja inspirado, do mesmo modo que os outros livros do Novo Testamento.
¹Dizer-se que o Apocalipse é indecifrável seria negar, então, que é um livro de revelação; ora se “apocalipse” significa revelação não pode, consequentemente, ser um livro indecifrável.
Alguns estudiosos afirmam que o Apocalipse não é de São João, pois há diferenças estilísticas em relação ao 4º Evangelho,também de sua autoria. Para outros as divergências encontradas são pequenas o que não confirma esta hipótese. Por exemplo: no Apocalipse e no quarto Evangelho o termo “logos” aplicado à Cristo é característica de João, assim como as expressões “água viva” ou “água de vida”, “testemunho”, e “verdadeiro”. Há, evidentemente diferenças de linguagem que poderiam ser explicadas em parte do gênero literário apocalíptico empregado pelo autor e, talvez, porque João, desterrado na ilha de Patmos (condenado provavelmente à trabalhos forçados), não tenha tido a tranqüilidade e o ânimo suficiente para redigir um texto em estilo elegante e polido. É provável que não tivesse ao seu lado nenhum discípulo helenista que pudesse corrigir sua obra, já que a escreveu em grego. Por outro lado, para a redação do 4º Evangelho, ele teve a colaboração de amanuenses e revisores.
Segundo São Jerônimo, o apóstolo deve ter recebido as “visões” pelos anos 14 ou 15 de Domiciano, ou seja, 95 d.C. Outrosautores não confirmam esta data, pois as “visões” teriam se dado antes. De qualquer forma se pode dizer que o texto foi contemporâneo ao quarto Evangelho.
Enquanto o Apocalipse usa os métodos simbólico e enigmático, o Evangelho só usa o primeiro. No entanto como o Apocalipsedurante o terceiro século d.C. sofreu interpretações favoráveis à certas posições consideradas heréticas pela Igreja, foi colocada em dúvida a sua origem apostólica por grandes autores desta época, como por exemplo, São Dionísio, que foi bispo de Alexandria, mas não a sua canonicidade. Outros autores como Eusébio de Cesaréia, São Cirilo de Jerusalém, São Gregório de Nazianzo, São João Crisóstomo, Teodoreto não citam o Apocalipse, e parece, conforme assim se interpreta, que eles não o consideraram como um livro sagrado e esta foi a posição dentro da Igreja nos primeiros séculos.
Só posteriormente foi formalizado o seu valor canônico e apostólico, posicionamento que pode ser explicado pelo fato de que, ao surgir, colocaria em risco a posição da Igreja, o que não aconteceu, e foi considerada então uma obra apostólica.
Porém, com que finalidade foi redigido? Segundo os intérpretes de Salamanca, foi dirigido às sete igrejas da Ásia Menor (pró-consular), em Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Filadélfia, Sardes, Laodicéia e Tiatira, que, respectivamente, não representavam a totalidade das igrejas da região e foram escolhidas por motivos discutidos pelos exegetas. Para os professores da Salamanca, os cristãos se opunham ao culto imperial, o que desencadeou uma cruenta perseguição contra eles.
São João quis, com a obra, consolá-los e infundir-lhes novo valor para que lutassem por Cristo. Outro aspecto é a insistência com que é apresentado o poder pagão da época; como uma força que luta encarnecidamente contra Cristo e sua Igreja, são “anti-cristos”, personificações de forças coletivas do mundo, não só de sua época, mas também da nossa, que pelos séculos vêm tentando destruir o poder de Jesus Cristo.
Comentaremos a doutrina do Apocalipse à proporção que for feita a interpretação dos versículos e dos capítulos, intercalando-os com explicações que julgarmos necessárias.
Notícia sobre a obra:
Apocalipse de São João é um livro atual, eternamente atual, que indica o caminho da iniciação cristã. Esta se dá por meio da interiorização, pela via esotérica, pela elevação da mente na procura de Cristo.
O Cristianismo se caracteriza por ser uma ordem iniciática de virtudes, do que há de mais elevado no homem. São João usou de uma linguagem, sem dúvida, enigmática, uma das razões que levou inúmeros estudiosos a afirmar que o texto sagrado não seria do apóstolo, mas este é um aspecto secundário; apesar de ser tema de inúmeras discussões por parte de exegetas, pois o que interessa é a mensagem, a novidade que o texto traz, apesar de estranho no contexto dos livros sagrados, por permitir interpretações controversas.
O autor, através da análise hermenêutica e simbólica, reitera a validade das “visões” do profeta, desvelando a sua mensagem de uma maneira clara, límpida e cristalina.

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